Carcinomatose Peritoneal
Projeto BhioQap a PIPAC brasileira
A carcinomatose peritoneal é considerada uma doença neoplásica avançada. A esses pacientes são reservados tratamentos que pouco alteram o desfecho fatal. Nos últimos 20 anos, a abordagem terapêutica dessa condição tem sofrido alterações importantes. O melhor entendimento da condição como parte do processo de disseminação neoplásica e uma doença limitada a um único “órgão”- o peritônio- mudou o panorama de tratamento dessa patologia. Esse novo conceito, desenvolvido a partir dos estudos do dr. Paul H. Sugarbaker, conduziu a rumos diferentes a abordagem de pacientes com carcinomatose peritoneal em neoplasias do trato gastrointestinal, ginecológicas e primarias do peritônio. A associação de citorreduçao cirúrgica e aplicação de quimioterapia intra-peritoneal se tornam o ponto chave na tentativa de controle da patologia. O uso da quimioterapia intraperitoneal (QIP) surge nesse cenário como um dos pilares nessa nova terapia. A aplicação direta do quimioterápico no espaço intraperitoneal tem demonstrado resultados superiores a quimioterapia sistêmica quando se avalia características como: concentração da droga no espaço peritoneal, penetração nas metástases peritoneais e na toxicidade da quimioterapia. O contato direto do quimioterápico no espaço peritoneal com os nódulos metastáticos apresentam uma bioatividade superior e diferente sobre os tumores quando comparável a atuação da quimioterapia sistêmica demostrando vantagem na aplicação intraperitoneal no tratamento da carcinomatose.
Tradicionalmente o uso da QIP é aplicada por soluções liquidas que vão banhar o espaço peritoneal carreando o agente quimioterápico. Essa forma de aplicação apresenta limitações na distribuição homogênea na cavidade e a capacidade de penetração tecidual. Uma nova modalidade de aplicação surge nos últimos anos como uma alternativa ao método comum de aplicação da quimioterapia intra-abdominal, a chamada PIPAC (Pressurized Intraperitoneal aerosol chemotherapy). A aérosolização do quimioterápico sobre pressão positiva intra-peritoneal apresenta vantagens quando comparado ao uso de soluções em estado líquido para aplicação da quimioterapia no espaço intraperitoneal. O líquido aérosolizado sobre pressão carrega consigo a característica física de comportamento e distribuição idêntica as dos gases em geral. Dentre essas, duas são fundamentais no que diz respeito à aplicação da quimioterapia intraperitoneal. Uma distribuição homogênea e rápida no espaço físico em que o gás está contido. A segunda refere-se a profundidade de penetração tecidual do agente quimioterápico sofre modificação quando a aplicação desse é influenciada pelas características tanto físicas do estado gasoso quanto de pressão do pneumoperitoneo apresentada na PIPAC. A pressão intraperitoneal modifica a “permeabilidade peritoneal” alterando as forças hidrostáticas teciduais aumentando a concentração de substância intraperitoneais no espaço extracelular em dobro e a condutividade hidráulica dos fluídos em cinco vezes.
Resultado iniciais animadores no uso da PIPAC em pacientes com carcinomatose peritoneal em câncer gástrico, câncer de colon e câncer de ovário tem aumentado o interesse no uso da PIPAC como uma modalidade de tratamento possível nessa patologia. A metodologia de aplicação da PIPAC associada a videolaparoscopia traz a vantagem dos tratamentos minimamente invasivos como a versatilidade e baixa morbidade da videocirurgia na aplicação da QIP. Dessa forma, o procedimento passa a ser uma alternativa importante no planejamento do tratamento da carcinomatose peritoneal possibilitando aplicações seriadas de tratamento intraperitoneal com uma morbidade baixa.
Frente a esse contexto o programa de tratamento de doenças de doenças peritoneais do Hospital Santa Rita – Complexo Santa Casa de Porto Alegre inicia a implementação e desenvolvimento dessa nova técnica de aplicação de quimioterapia intra-peritoneal. Junto com a empresa Bhiosupply iniciou-se esforços para a criação e desenvolvimento de tecnologia 100% brasileira que vai possibilitar acessibilidade a mais essa alternativa de tratamento da carcinomatose peritoneal.

Rafael Seitenfus
coordenador do Programa de tratamento de doenças peritoneais
idealizador do projeto BhioQap

